ArtigosEdição 003

A política é um jogo

A situação política do Brasil parece caminhar numa direção que desmoraliza a democracia e o Estado de direito, como se estivesse testando até quando poderemospuxar a corda”. As tensões e disputas sempre fizeram e sempre farão parte do jogo da democracia e da defesa dos interesses do pluralismo da sociedade. Mas a regra que todos devemos respeitar é a observância absoluta da Constituição Federal.

As ameaças a membros do Supremo Tribunal Federal, as exigências de fechamento da instituição e o incentivo ao caos político que levou à prisão do deputado federal Daniel Silvera (PSL/RJ) deixaram de ser fatos impensáveis ​​nas democracias e são veiculados na televisão. Eles não são. A Constituição Federal proíbe qualquer ameaça ao nosso regime político e prevê que quem descumprir esta disposição será punido com pena de prisão.

Outros episódios envolvem Sara Winter, ativista e YouTuber que perdeu as eleições para deputada federal em 2018 no Rio de Janeiro, e Bo, assessora da Ministra da Família, da Mulher e dos Direitos Humanos, Lorde Oswaldo Eustáquio. Mesma arquitetura. Ambos foram presos em 2020 e ainda organizam apelos à intervenção militar e ao fechamento antidemocrático do STF e da Assembleia Nacional. É contra esse comportamento criminoso, que é considerado um direito à liberdade de expressão ou de opinião, que devemos opor-nos e exigir uma investigação rigorosa.

Se Bettinho ainda estivesse vivo, certamente estaria convocando grandes manifestações contra qualquer ameaça à nossa democracia. Embora a democracia seja imperfeita, ela garante que podemos discordar e lutar por um Brasil melhor e mais inclusivo para todos. Bettinho faleceu, mas a sua lição permanece: “Sem democracia, um país não existe como povo”. Nós do Ibase seguimos e defendemos essa tradição.

Além de uma situação política complexa, enfrentamos uma grave crise social e sanitária. O regresso da fome e do desemprego e a pandemia do coronavírus não nos colocam em pé de igualdade com os negacionistas que insistem em ocupar as ruas e demonstrar um poder que verdadeiramente não possuem. Nossa luta permanece viva através das redes de ação que a sociedade civil brasileira (principalmente movimentos sociais, coletivos de jovens suburbanos e ONGs) consegue manter ativas. Nos mantemos organizados em espaços virtuais e utilizamos a tecnologia que sempre foi nossa aliada. No devido tempo saberemos decidir coletivamente o melhor momento para voltar às ruas, sem medo e com segurança.

Até lá, o que esperamos é que as instâncias responsáveis pela investigação de crimes e atos antidemocráticos sigam rigorosamente a lei.  Não podemos negociar a independência dos três poderes estabelecidos e nem, em hipótese alguma, permitir que sejam ameaçados de fechamento. A ditadura militar não tem mais espaço no Brasil, devendo ficar restrita aos livros de história – sem ser esquecida ou relativizada em seus abusos e crimes.

Por Athayde Motta
https://ibase.br/democracia-e-um-jogo-mas-nao-uma-brincadeira/