ArtigosEdição 002Léo Vilhena

A difícil arte do jornalismo independente sem grife

Antes de entrar no âmago exposto no escopo, é imperioso relembrar o que seja jornalismo independente para que todas as dissertações sobre o assunto façam o mínimo de sentido.

Então vamos nessa jornada?

O jornalismo independente ou a média independente são jornais, sites, blogs ou podcasts que não estão sob o controle de grandes grupos de comunicação, e que não estão vinculados a compromissos com anunciantes, grupos políticos ou instituições governamentais.

Esse tipo de jornalismo vai à contramão da mídia corporativa (ou “grande mídia”), que, frequentemente, distorce os fatos e apresenta uma visão de acordo com quem lhe paga mais.

É o tipo de publicação que não se presta necessariamente a propagar a ideologia dos grupos que dominam a ordem atual da sociedade.

O jornalismo independente, em sua essência, retrata o jornalismo como de fato ele deve ser, cru, sem barrigas ou narrativas, noticiando o fato como ele é.

Embora semelhante em propósitos, a mídia independente não é sinônimo de mídia alternativa, por não necessariamente se contrapor a uma hegemonia ou causa.

Há exemplos de veículos de mídia que são independentes porque não são vinculados a nenhuma grande empresa, mas que produzem conteúdo similar ao da grande mídia, com a mesma qualidade ou até superior.

Embora o jornalismo independente se caracterize pela pluralidade e participação das mais diversas classes sociais, a sua qualidade no que diz respeito à relação mensagem-receptor fica um pouco prejudicado pelo fato de que são poucos os profissionais formados que atuam nessa área, que acabam se misturando a aventureiros que se autointitulam, jornalistas.

São pessoas sem formação que estão apenas tentando tumultuar o ambiente e descredibilizar o jornalismo independente.

O amadorismo e a falta de capacidade técnica de alguns, mesmo que frutos da baixa infraestrutura, podem fazer da mídia independente uma forma de comunicação pouco preparada para lidar com o público receptor.

Carece de um órgão que filtre, quem é formado de fato, aos aventureiros.

Cobertura

A ênfase da cobertura do jornalismo independente é a cobertura de fatos e movimentos sociais internacionais, nacionais, regionais, estaduais e locais, tendo, como objetivo, cumprir o papel que a mídia tradicional deixa de cumprir devido aos interesses envolvidos e amarras ideológicas e partidárias.

Os movimentos sociais ligados à mídia livre avaliam e questionam a maneira como as grandes mídias foram construídas historicamente, a legislação vigente que rege os meios de comunicação e os limites da liberdade de expressão impostos pela legislação vigente.

Inclui quaisquer meios de comunicações que não sejam vinculados a partidos políticos, entidades religiosas, órgãos estatais ou grupos de interesses comerciais, buscando ser uma alternativa à apropriação tendenciosa do conteúdo de notícias divulgadas.

O jornalismo independente visa fornecer informações de maneira, que sejam percebidas no contexto geral, sem a fragmentação do noticiário e das análises que fazem parte de uma estratégia de alienação que limita a capacidade de avaliação crítica dos fatos em sua totalidade do real, bem como oferecer, ao público, informação alternativa e crítica, sem os objetivos atrelados ao mercado consumidor da mídia empresarial, que apresenta fatos e suas interpretações de acordo com interesses econômicos, sociais e culturais ligados ao mercado e, portanto de forma não independente.

A difícil arte do jornalismo independente sem grife

Quando pensei nesse tema, foi baseado numa premissa muito simplória: um jornalismo independente, mesmo que levado muito a sério, mas sem grife, dinheiro ou status, é relegado a última opção do leitor, por mais que seus textos sejam brilhantes ou, quiçá, relevantes, porém, por não ter uma grife, ‘nome consolidado no mercado’ ele é abjetamente deixado de lado.

Vejo e sinto isso, na prática, ao perguntar alguns amigos se leram os nossos últimos textos.

As respostas são baseadas numa missa: “não vi, não tive tempo, agora não dá…”

A dor que nos causa essas respostas, que por vezes impõe o desejo de desistir ou abandonar, é que nos sacrificamos para oferecer o melhor, de graça, e o investimento que fazemos, que não é nem um pouco barato, nunca é considerado, nem por aqueles que nos chamam de amigos.

São equipamentos (uso 5 computadores de alta performance), luz, 2 ou 3 internets de alta performance, colaboradores, fontes, deslocamentos, viagens, domínios, sites, hospedagens, plugins, programas e uma série de fatores, que os leigos sequer imaginam o tamanho dos gastos, para levar até você as notícias ou textos de análises. E muitos outros periféricos/acessórios, como, por exemplo, 6 HDs externos, cada um de 1 Tera.

Jornalismo é caro.

Nem mencionarei o quanto gastei em minha formação, em uma época em que sequer havia internet, nossas consultas eram em livros físicos, nas bibliotecas municipais de nossos bairros ou regiões.

Esse texto não é de vitimização, é de conscientização.

Ficou claro?

Apoie o jornalismo independente.

Léo Vilhena | Jornalista